Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. João 5:24





terça-feira, 15 de janeiro de 2013

COMO SER LIBERTO DA AMARGURA

 
 
Esta porção da Palavra nos orienta a nos despojarmos de toda a amargura. É fácil perceber quando alguém sente amargura no coração: seus olhos e os traços do seu rosto o denunciam, ainda que a pessoa seja bem nova! Pode-se entrever a amargura nos lábios dessa pessoa, em seus risos c sorrisos. Há um toque amargo neles, e pode-se notar isso com nitidez. O seu tom de voz também o denuncia. Percebe-se amargura em seu jeito de falar quando... protesta e alega que não sente amargura alguma! Este é um sentimento que ocupa o nosso íntimo e que se ramifica por todas as áreas do nosso ser.
A Bíblia nos apresenta várias pessoas que padeceram deste mal. Por exemplo: Jonas. O Senhor lhe perguntou: “É razoável essa tua ira por causa da planta?” E a sua resposta foi: “É razoável a minha ira até à morte” (JONAS 4.9).
Ele sentia-se no direito de amargurar-se. “Eu mereço amargurar-me. Senhor não concordo com que o Senhor perdoe o povo. Eu não quero que o perdoes”.
Gostamos de guardar rancor contra os outros. Todavia, o nosso texto nos ordena que nos livremos de toda a amargura e que mantenhamos uma atitude de compaixão em nosso coração. Surge, então, uma pergunta: é possível ser benigno, compassivo, ter um coração misericordioso e, ao mesmo tempo, sentir amargura? Benignidade, compaixão, misericórdia e amargura são todas atitudes do coração. Por definição, a misericórdia está ligada ao coração. Mas a amargura, também. E não é possível ter duas atitudes contrastantes e contraditórias no coração.
O texto nos manda que nos livremos de toda a amargura e que sejamos benignos e compassivos uns para com os outros. Assim, é preciso que a amargura seja dele erradicada. Porém, antes que possa ser removida de nós, é preciso duas coisas: que saibamos o que é a amargura, e que reconheçamos a sua presença em nós.
É relativamente fácil notar quando os outros estão com amargura no coração. Mas não é fácil reconhecermos a mesma coisa com relação a nós mesmos. Torna-se, portanto, essencial que tenhamos uma compreensão clara da definição que a Bíblia traz neste problema.
Suponhamos que um crente cometa um pecado. Minta, por exemplo. Quando ele cometer esse pecado, sentir-se-á culpado, ou amargurado? A resposta é: culpado. Quando pecamos, sentimo-nos culpados. Não há dúvida.
Suponhamos, agora, que alguém levantou uma calúnia contra esse crente, espalhando-a pela cidade inteira. Que ele irá sentir: culpa ou amargura? Amargura.
Sentimos culpa quando pecamos. Sentimos amargura quando alguém peca contra nós. A própria definição de amargura sugere a ação de outra pessoa. Se fôssemos nós que tivéssemos cometido a ofensa, sentir-nos-íamos culpados, compreendendo que teríamos que confessar e abandonar o nosso pecado.
Poderemos até não confessar o nosso pecado, mas não por não sabermos que deveríamos fazê-lo. Mas, o que fazer com a culpa dos outros? A amargura sempre fundamenta-se no pecado cometido por outrem — pecado esse que realmente tenha sido cometido ou que imaginamos ter sido cometido.
Pensemos, inicialmente, no “pecado imaginário”. Muitas vezes sentimos amargura contra uma pessoa por alguma coisa que ela tenha dito, sem que ela realmente tenha dito o que pensamos. Demos ouvido a um comentário mentiroso, e tornamo-nos amargurados. E ficamos esperando que essa pessoa venha pedir-nos perdão quando ela não tem de que pedir perdão. Será que devemos passar o resto da vida com amargura no coração porque ela nunca veio pedir perdão por um pecado que não cometeu?
Ocorre que muitas pessoas nem sequer consideram a possibilidade de estarem amarguradas por causa de pecados imaginários, ou seja, pecados que nunca realmente aconteceram. Para elas, em sua amargura, o pecado da outra pessoa é absolutamente real. Para gente assim, é suficiente que decidam pela culpa de quem “pecou” contra elas, desde que obedeçam ao texto bíblico em foco.
Mas, que fazer quando alguém realmente houver pecado contra nós? Há muitas pessoas com amargura no coração porque foram mesmo magoadas por alguém. Como agir nesses casos?
A amargura está ligada a algum pecado que, de algum modo, foi cometido contra nós. Não se baseia tanto na extensão do pecado, mas no quanto ele tem a ver com a nossa pessoa. Por exemplo, se uma imoralidade grande e grosseira acontecer n Irã, Iraque, El Salvador ou Colômbia, qual a nossa reação? Lemos sobre o ocorrido, mas não sentimos culpa alguma. Lemos sobre ele, mas não sentimos amargura. Poderemos nos sentir consternados, estarrecidos, ou algo semelhante, mas não nos sentimos culpados ou amargurados. Todavia o pecado cometido foi horrível, e alguém o cometeu! O que estou demonstrando é que a amargura não depende da extensão do pecado, mas do quanto ele fere a minha pessoa. A minha amargura está diretamente relacionada às pessoas que me rodeiam.
Que pessoas estão mais sujeitas a sofrer amargura? A resposta é simples: pais, mães, irmãos irmã, maridos, esposas, filhos, namorados, noivos, colegas de pensionato, chefes, subalternos, colegas de trabalho, sócios e, também, mais alguns parentes — avôs, tios e outros. Há, também, muitas pessoas amarguradas contra Deus.
Nós não nos amarguramos pelo pecado cometido fora do nosso próprio círculo imediato de relacionamento. A amargura nasce do pecado cometido por alguém ligado a nós, pecado esse que nos afetou. Pode ser uma coisa bem pequena. Não precisa ser algo grandioso — basta que nos afete. Ele tem o costume de largar as meias sujas no chão do quarto? Você fica amargurada por causa disso? Bem, talvez não da primeira vez que o fizer, mas... e se ele repetir esse comportamento umas 5.000 vezes?
E provável que você pense que tem o direito de amargurar-se. Todavia, a Bíblia não concede esse direito a quem quer que seja. A passagem em foco nos manda acabar com toda a amargura.
“Atentando diligentemente por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hebreu5 12.15).
Aqui, a Palavra descreve a amargura como sendo uma raiz. Raiz é algo que fica debaixo da terra, e não pode ser visto. Poderá haver evidência da sua presença — por exemplo, quando uma calçada racha e se quebra.
As raízes fazem outras coisas, também. O fato de não as vermos não significa que não estejam lá. Nem que jamais poderemos vê-las. Elas se alimentam e não ficam eternamente sem crescer e manifestar-se.
Os frutos estão diretamente relacionados às raízes que os produzem. A raiz da macieira produz maçã. Se houver uma raiz amarga, seu fruto será amargo.
E isto o que ensina este versículo. Cuidado para que nenhuma raiz de amargura se manifeste, cause problemas e contamine a muitos, ou seja, venha a tornar muitas pessoas sujas também. Você já viu a amargura espalhar-se no seio de uma igreja’? Ela pode grassar uma comunidade como o fogo uma campina. Pode alastrar-se no nosso trabalho, ou na pensão onde moramos. Por quê? Porque alguém decidiu abrir-se. Havia amargura cm seu coração e decidiu permitir que essa raiz se manifestasse e desse o seu fruto. “Abriu-se” com alguém, e muita gente veio a ficar amargurada, também. O autor de Hebreus nos adverte quanto a este perigo. Ele diz: cuidado para não se separar da graça de Deus. Quando você se deixa envolver pela amargura, ela se manifesta e contamina muitas outras pessoas. Suja muita gente.
O que acontece à pessoa que guarda em seu íntimo o rancor por muitos anos? Há alguma conseqüência física? Pode ficar fisicamente doente? Sim. Às vezes, tudo por causa da amargura guardada contra um parente seu. A pessoa decidiu não exteriorizar a sua amargura. Não contaminou outros — guardou tudo no fundo do coração. Com o passar dos anos, começa a ter um problema de saúde. Vai ao médico, e este lhe diz: “Verdade, você está doente. Mas eu não trato do seu caso. Vou enviá-lo para um especialista”.
E assim, o médico a envia para um psiquiatra. Este concorda com o seu colega: “Verdade, você está mesmo doente. E eu sei porque. Você está assim porque há 20 anos vem guardando amargura contra o seu pai. Você se reprimiu esse tempo todo, e se destruiu interiormente. Você guardou esse veneno no seu íntimo, o que gerou esta enfermidade física. O que eu quero que você faça é o seguinte: vá para casa e se abra com o seu pai. Por que se reprimir e adoecer? Libere o que está lá dentro. Contamine toda a sua família!”.
Assim, o mundo apresenta duas soluções para o caso: conservar no íntimo o rancor e ficar doente fisicamente, ou liberar o rancor e contaminar todos os que estiverem ao nosso redor. A solução de Deus é: arranque a raiz! Livre-se dela! Mas, para isso, precisamos da graça de Deus. E preciso que se conheça realmente o Senhor Jesus Cristo para que se consiga isso. Ele é a fonte de toda a graça.
As soluções que o mundo sugere para o problema da amargura jamais devem ser aceitas pelos crentes. Quando estes copiam o mundo, só têm duas escolhas paupérrimas a fazer. E a Palavra diz que temos que nos livrar de toda amargura — não podemos guardá-la em nosso íntimo, e nem podemos liberá-la. Temos que rendê-la ao Pai, por meio de Seu filho .Jesus.
“Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins” (Tiago 3.14-16).
Quando eu era moço, aspirante da Academia Naval, pensava que à medida que as pessoas ficassem mais velhas, amadurecidas, deixavam de lado toda mesquinhez e inveja. Pensava que, quanto mais graduado você fosse, mais amadurecido você se tornava, e menos sujeito a esse tipo de coisa. Todavia, à medida que fui envelhecendo percebi que a inveja tornava-se ainda mais intensa. A amargura se acumula. A não ser que solucionem o problema, as pessoas não se tornam menos amargas com a maturidade. Os anos as tornam mais amargas ainda. A tendência é piorar cada vez mais.
Se você der guarida à amarga inveja, isso resultará em prática pecaminosa. E isso não vem do céu — vem do inferno, e provém do diabo. Toda prática pecaminosa é gerada por esse tipo de atitude. Está claro que temos diante de nós um grande problema: como nos livrar da amargura?
Antes que possamos livrarmo-nos dela, precisamos aceitar do fato de que nós abrigamos a amargura em nossos corações. Como saber se temos amargura?
Uma boa “dica”: a. pessoa amargurada lembra-se dos detalhes. Você já conversou milhares de vezes na sua vida, tendo-se esquecido da maioria dessas conversas. Todavia, há uma conversa, particularmente, que ocorreu a cinco anos, da qual você se lembra de cada palavra e da entonação e inflexão da voz da pessoa com quem conversou. Você se lembra claramente de tudo o que aconteceu. Isso quer dizer que você guardou rancor.
Alguém poderá objetar dizendo que podemos nos lembrar claramente de uma conversa agradável. Verdade? Sim, mas, nem tanto. Por quê? Porque a nossa memória recebe uma grande ajuda da recapitulação — eu fico repassando as coisas que me acontecem. E, geralmente, as pessoas não “ruminam” muito as boas coisas que lhes acontecem. Preferem reviver vez após vez o que de mau lhes sucede. Tenho aconselhado muita gente que pretende divorciar-se. Algumas delas, conhecidas desde tempos mais felizes de sua vida conjugal. Todavia, à época de separação, não conseguem lembrar-se de um só momento feliz. Só se lembram daquilo que têm repassado em seus corações. Estão cheias de rancor.
Isso não quer dizer que não houve momentos felizes. Mas o fato é que elas canalizaram toda a sua visão para a sua retidão e justiça e para os erros e defeitos do cônjuge. Se você guarda lembrança acurada, detalhada, de coisas que lhe aconteceram a anos, quando você era criança ou jovem, e se essa lembrança acusa alguém, isso é indicação de que há amargura no seu coração. E a solução para a amargura é desarraigá-la.
Certa vez tive uma experiência maravilhosa na cidade de Dallas, no Texas. Eu iria falar num sábado à noite, na casa de um velho amigo. Sabendo que iria estar lá, decidi comunicá-lo a diversas pessoas que eu conhecera anteriormente em outros lugares, e que agora estavam em Dallas. E elas foram à reunião.
Eu fora convidado para falar a respeito do problema da amargura. Ao final, um casal me procurou. Eu os conhecera 8 anos antes na cidade de Pullman, Washington. A esposa disse-me o seguinte: “Estamos casados a 8 anos. No primeiro ano do nosso casamento cu sentia uma raiva enorme da minha mãe, e todos os dias despejada tudo no meu marido. O nosso primeiro ano de casados foi terrível porque eu ficava contaminando o meu marido com o rancor que sentia contra a minha mãe”.
Ela, então, me disse que há 7 anos me ouvira falar sobre a questão da amargura, e decidira solucionar cabalmente o seu problema, o que realmente aconteceu! Mais tarde, encontrou-se com uma senhora que também guardava rancor contra a mãe. Pensou: “Eu posso ajudá-la! Posso falar com ela sobre a nossa experiência comum”. “Fui conversar com ela”, disse-me, “mas não conseguia me lembrar dos detalhes do meu ex-problema. Estes haviam sido apagados da minha memória! A única coisa que pude dizer a ela foi: “eu costumava lembrar-me de tudo, mas agora não consigo mais”. O Senhor havia verdadeiramente resolvido a questão do rancor no coração daquela mulher.
De outra feita eu estava ministrando um curso de quatro semanas sobre casamento. Eu havia colocado um anúncio no jornal, e não podia imaginar que pessoas viriam para participar. Veio uma senhora, por indicação de um médico. Quando entrou, confesso que honestamente nunca havia visto uma pessoa cuja aparência revelasse mais amargura do que a dela. Trazia consigo quarenta anos de amargura acumulada. Foi liberta naquela noite, e marcamos uma conversa para o dia seguinte, na livraria onde cu trabalhava. Ao entrar na loja, não a reconheci! Sua aparência era outra! Eu a conhecera há tão pouco, mas sabia que o seu Intimo fora purificado!
Mas qual é o problema? Por quem não nos libertamos da amargura? Se eu conto uma mentira, posso confessá-la e ser perdoado. Mas, para libertar-me da amargura é preciso que eu tenha uma visão bem nítida e honesta da sua presença no meu coração. Isso porque sou muito tentado a concentrar-me na atitude do ofensor, ao invés de concentrar-me na atitude do meu próprio cora ção. “Veja o que ele fez!”.
E assim quem age a amargura — essa é a sua natureza. Para poder livrar-me dela tenho que reconhecer a sua presença no meu coração, antes que eu possa confessá-la e abandoná-la.
Alguém dirá: “Não sou um indivíduo amargo. E só que me magôo com facilidade”. Acontece que os sintomas da mágoa estão muito próximos aos do ressentimento. Sabe como age õ ressentimento?
A amargura é o ressentimento acondicionado e acariciado no coração. E o ressentimento rançoso e decomposto. À medida que permanece no coração, vai apodrecendo mais e mais.
Inicialmente, poderá não se tratar de amargura — apenas uma “magoazinha”. Todavia, essa magoazinha é algo bem próximo do ressentimento. Ela se transforma facilmente em ressentimento. E o ressentimento e a amargura são parentes bem próximos. O ressentimento “vira” amargura profunda.
Trata-se de uma cadeia. A amargura, por sua vez, está bem próxima do ódio, e a Bíblia demonstra haver uma íntima ligação entre o ódio e o assassinato. Sim, a mágoa pode levar uma pessoa ao crime. Alguém poderá dizer que estou exagerando. Este “exagero” é bíblico.
O meu desejo é que fique bem claro que a amargura é pecado. A pessoa amarga deve, em primeiro lugar, reconhecer a sua amargura, e, também, reconhecer que este é um pecado grosseiro. E a razão por que geralmente não tratamos desse pecado é por pensarmos que se trata de um pecado cometido pela outra pessoa e, não, por nós mesmos. O diabo nos diz: “Olhe, quando ele parar de mentir, ou quando ele deixar de fazer isto ou aquilo, ou quando ele lhe pedir perdão, então tudo ficará acertado”.
Mas, e se essa pessoa nunca abandonar o pecado? Será que você irá continuar vivendo em amargura até o fim da vida porque essa pessoa insiste em permanecer no pecado? Isso é um absurdo! Se você disser: “Eu só irei perdoá-lo quando ele me pedir perdão — tenho direito a sentir amargura até que ele tome a iniciativa e me peça perdão — mas, quando o fizer, eu irei perdoá-lo e tudo acabará bem”, você conserva a barreira da amargura. Quando um dia a pessoa vier e lhe pedir perdão, será que você poderá perdoá-la? Não, porque a amargura não perdoa. A fim de que você possa perdoá-la, antes que ela venha pedir-lhe perdão é preciso que tudo já esteja acertado dentro de você. E, se tudo estiver acertado no seu coração, então você não dependerá de a pessoa vir ou não lhe pedir perdão. Ou seja, a solução do problema da amargura é unilateral: não depende da atitude da outra pessoa.
Já vimos que o rancor está ligado ao pecado de outrem — pecado esse real ou imaginário. Bem, direito que é por esse meio que a amargura se manifesta, pois, na realidade, a amargura é um pecado independente. A pessoa rancorosa escolhe ser assim, independentemente do ofensor.
Alguém dirá: “Não! Fulano pecou contra mim! Quando ele me pedir perdão, tudo estará resolvido”. Isso não é verdade.
Sei de casos onde o perdão foi pedido, e as pessoas continuaram amarguradas. E mais: e se o ofensor morrer, não mais podendo pedir perdão? Conheço pessoas extremamente amarguradas, e essa amargura é contra os seus pais, falecidos há anos. Só que a amargura não morreu. A amargura é o pecado pessoal do indivíduo rancoroso, e não depende de quem quer que seja.
Certa vez fui passar o dia com os internos da Penitenciária Estadual Walla Walla. Era época de Natal. Fiquei lá por umas 6 horas. No período da tarde, fui ao setor de segurança máxima, onde falei e ensinei sobre evangelização.
Alguém fez uma pergunta sobre como alcançar os criminosos realmente inveterados. Ele me fez pensar que estava realmente interessado nesse ministério e conversamos sobre o assunto. Depois, fui a outros setores da penitenciária, de menor periculosidade. À noite, voltando à segurança máxima, pensei em falar sobre amargura. Imaginei que seria bem provável haverem ali pessoas amargas, rancorosas. O mesmo indivíduo que me fizera a pergunta sobre evangelização no período da tarde, fez-me outra pergunta: “Corno uma pessoa poderá livrar-se do rancor contra alguém que surrou o seu filhinho de três anos de idade sem dó nem piedade?” Eu lhe oferecido a resposta, e acrescentei: “Veja: quando você livrar-se da sua amargura, poderá ajudar essa pessoa de maneira que não venha a fazer a mesma coisa a outras criancinhas”.
Ele respondeu-me: “Não! Não dá para ajudar esse cara”.
Objetei: “E claro que dá!”.
“Não, não dá”. “Por quê?”
“Ele já não está mais aqui”.
O interno havia assassinado o ofensor. Ele o matara por causa do que fizera ao seu filhinho de 3 anos de idade — era por isso que estava preso. E, apesar de ter matado o homem, continuava amargurado. Ou seja, “liberar” a amargura não resolve a questão — não nos livra dela.
Se a pessoa pedir perdão, isso não resolve o nosso problema íntimo com a amargura. A única solução cabal para esse problema é a confissão diante de Deus por causa da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Esta é a única solução.
Não podemos guardar a amargura dentro de nós, e também não podemos passá-la aos outros. A única coisa que devemos fazer é confessá-la, reconhecendo-a como um pecado grande e terrível. E devemos ser persistentes nessa confissão, quanto for necessário.
Certa vez eu estava falando numa escola de pós-graduação da Marinha, em Monterey, na Califórnia. Estava lá uni homem muito conhecido por ensinar a Bíblia. Era oficial da Marinha. Mas tinha sido passado para trás na lista dos que iriam comandar um submarino. Não se tornou o comandante, e ficou amargurado. Falei sobre a confissão do pecado e da amargura, e ele sentiu-se profundamente tocado. Conversamos, e ele acabou com a amargura por causa desse incidente. Na manhã seguinte, a esposa dele me disse: “Tenho um novo marido!” Ele guardara rancor contra a Marinha. O pecado era dele, não da Marinha.
Amy Carmichael certa ocasião fez um comentário a respeito de como um copo repleto dc água doce não irá derramar uma só gota de água amarga, não importando o tipo de solavanco que vier a levar. Se estiver cheio de água doce, que tipo de água irá despejar, quando for sacudido? Água doce. Se você sacudir o copo com mais força, que irá acontecer? Mais água doce irá sair. Se uma pessoa está transbordando com água doce e alguém lhe dá uni solavanco, que irá sair dela’? Água doce. Os solavancos não transformam a água doce em amarga. A amargura vem de outra fonte.
Os solavancos só fazem sair do copo aquilo que já está dentro dele. Se você estiver cheio de luz e doçura e sofrer um choque, irá derramar luz e doçura. Se você estiver cheio dc mel, é mel que sairá. Se sair vinagre, isso será prova de que? O vinagre irá mostrar aquilo que já estava dentro do copo. Resumindo: uma grande amargura não depene do que alguém fez contra nós; é o resultado do que nós somos e fazem os.
Há muitos anos eu estava trabalhando em minha escrivaninha, em nosso quarto. Bessie, a minha esposa, estava na cama, lendo, e eu, trabalhava na escrivaninha. O meu trabalho não estava se desenvolvendo a contento. A Bessie me disse alguma coisa, e eu me voltei a ela e explodi, falando asperamente. Foi uma atitude anticristã. Ela olhou assustada para mim, levantou-se, e saiu do quarto. Eu fiquei lá, sentado, pensando: “Ela não deveria ter falado assim comigo! Olhe só o que ela disse! Olhe só!”. Fiquei assim por uns 10 minutos ou mais. Eu sentia amargura contra a Bessie. Mas, tudo o que ela fêz foi chacoalhar o copo. O que saiu, foi o que estava lá dentro. Se eu estivesse cheio de doçura e luz, o que ela disse não teria me afetado. Fiquei sentado só pensando no que ela fez. Aquela época, eu já aprendera esta verdade a respeito da amargura. Mesmo assim, fiquei me concentrando no “pecado” que ela cometera. Isso porque temos prazer em ficar acusando os outros. Há pessoas que o fazem por anos!
Fiquei sentado ali por algum tempo. Depois, levantei-me, fui para o meu lado da cama, ajoelhei-me, e disse: “Senhor, a culpa é toda minha. A amargura é minha e o pecado é meu. Eu o confesso e o abandono. Por favor, perdoe-me”.
Eu me levantei, e pensei: “Mas... olhe só o que ela fez!”. Ajoelhei-me novamente “Senhor, perdoa-me. A culpa é minha. O pecado é somente meu”.
Levantei-me, e pensei: “Senhor, nós dois sabemos de quem é a culpa”. Ajoelhei-me de novo. Permaneci de joelhos por 45 minutos, até que pude levantar-me sem dizer: “Olhe só o que ela disse”.
Hoje não sei mais o que ela disse, e nem me lembro do que eu estava fazendo na escrivaninha. Não me lembro dos detalhes. A única coisa de que me lembro foi que me levantei. Mas tenho certeza de que se eu não tivesse tratado da questão da amargura, até hoje eu me lembraria exatamente do que ela disse. A amargura é assim. E para livrar-se dela é preciso que você reconheça que ela é um mal, e que é um pecado seu e tão-somente seu. Não é possível acabar com ela por meio de um pedido de perdão do ofensor. Não é possível livrar-se dela se a pessoa se muda ou morre. Você não conseguirá livrar-se da amargura de modo algum a não ser que a reconheça como pecado contra o Deus que é Santo, confesse esse pecado e receba o perdão.
A dificuldade está em desviarmos a nossa atenção do pecado do outro. Mas, o próprio fato dc pensarmos que o problema é do outro já prova que não é. Se fosse, e você estivesse radiante de luz e doçura, não sentindo-se amargurado, você estaria preocupado em ajudar a outra pessoa. Você poderia dizer: “Coitado! Olhe o que ele fez! Se eu fizesse o que ele fez, iria sentir-me um farrapo. Ele deve estar sentindo-se assim; vou ajudá-lo”. Se a sua atitude é outra, você está amargurado, e o pecado é seu, e não dele. Eu creio que este pecado seja um dos maiores impedimentos ao avivamento neste país. Quando os crentes começarem a confessar os seus pecados, estarão prontos para perdoar os pecados dos outros.
“Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mateus 18.35).
Quem disse isso foi o Senhor Jesus Cristo, ao trazer aos Seus seguidores o ensino a respeito do perdão.
Muitos de nós já tivemos a experiência de ver uma pessoa chegando até nós para pedir perdão. Também nós já fomos a outros a fim de pedir-lhes que nos perdoassem. Há vários tipos de respostas que se dá a esse pedido, mas a resposta mais comum é aquela em que a pessoa diz que “não há nada a ser perdoado”. Na aparência, essa resposta dá uma impressão de muita bondade, mas, na realidade, não é assim — é um meio de a pessoa recusar-se a perdoar.
A pessoa a quem você pede perdão sabe muito bem que você precisa ser perdoado. E se esquiva do seu pedido ao dizer: “Não há o que perdoar”. Poderá haver o caso de a pessoa estar sendo sincera, mas não é isso o que ocorre normalmente.
Às vezes, as pessoas dizem: “Tudo bem; está perdoado”. Dizem-no por uma questão “protocolar”, mas não é isso o que o seu coração está dizendo. O ensino de Jesus, porém, exige o perdão de coração. Deus sabe quem realmente perdoa. E aprendemos que o Senhor irá tratar-nos de um determinado modo a não ser que perdoemos de coração ao nosso irmão. Ele não exige de nós que digamos palavras bonitas. E mesmo que você convença a pessoa que veio até você pedindo perdão de que a perdoou, não poderá convencer Aquele que sonda o coração. E Ele sabe quando você realmente perdoa de coração.
Não podemos esconder do Senhor esse nosso pecado. Os nossos corações estão abertos e manifestos diante d’Ele. Se nos recusamos a perdoar, Ele o sabe. Ele conhece o nosso pecado e, sem dúvida alguma, lembra-Se muito bem do que a Sua Palavra exige em termos de perdão.
O que diz a Bíblia sobre como o nosso Pai Celeste irá tratar-nos?
“Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoa? Até sete vezes?” (Mateus 18.20).
Pedro pensava estar fazendo uma pergunta “virtuosa”. Pensava: se uma pessoa pecar contra mim sete vezes deverei perdoá-la’? Não é uma atitude santa, a de perdoar sete vezes?
“Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.22).
Quando Jesus deu essa resposta, será que Ele queria dizer que devemos estabelecer um limite? Devemos estabelecer uma contabilidade do perdão? Fazer um arquivo?
Se uma pessoa conta o número de vezes que perdoou, isso significa que ela nunca perdoou realmente. Se você perdoasse ao seu irmão do íntimo do seu coração cada vez que ele pecasse contra você, cada nova ofensa que ele cometesse ,iria parecer-lhe a primeira.
Quando Jesus ensina a respeito de, por exemplo, oferecer a outra face, as pessoas não fazem a aplicação correta desse ensino, pois dizem: “Tudo bem: vou deixar que ele me bata na outra face. Mas, se ele me bater na terceira vez, vou lhe dar uma surra que o deixará no chão!”.
Ao nos ensinar sobre oferecer a outra face, Jesus estava dizendo que devemos fazê-lo de coração. Ele compreende que a outra pessoa está pecando contra você, Compreende que a outra pessoa está errada sete vezes, setenta e sete vezes, ou quatrocentas e noventa vezes. Porém, se você está contando quantas vezes, não está perdoando.
“Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos’. E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos, e tudo quanto possuía, e que a dívida fosse paga. Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: sê paciente comigo e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: paga-me o que me deves. Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: sê paciente comigo e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera. Então o seu senhor, chamando-o, lhe disse: servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mateus 18.23-35).
Quando passamos da morte para a vida, fomos perdoados. E o escrito de dívida que foi cancelado era imenso! O perdão é um presente que nos foi dado incondicionalmente. Mas há uma diferença entre perdão incondicional e perdão condicional.
Ao nascermos de novo, recebemos o perdão incondicional. Trata-se de um perdão imenso, como o que foi oferecido ao grande devedor da parábola. Lemos em Colossenses 3.13:
“Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”
Como foi que o Senhor nos perdoou? Incondicionalmente. E a ordem é que perdoemos como o Senhor nos perdoou. Incondicionalmente. Todavia, quando se trata dos que nos ofendem, estabelecemos um perdão condicional. É bom lembrarmos como o Pai Celeste trata aqueles que comportam-se como o servo incompassivo da parábola.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12).
O Senhor nos orientou a orarmos assim. Mas nós nos opomos dizendo: “Senhor, eu não quero ser perdoado desse jeito. Se eu for ser perdoado da forma pela qual eu perdôo, estou perdido!”.
O crente que ora conforme essa instrução está orando por um perdão condicional. Nos versículos 14 e 15, logo após a oração do Senhor, Jesus diz:
“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. Isso é verdade? Foi Jesus quem o disse!
Alguém poderá objetar: “Como pode ser? Recebemos perdão incondicional. Depois, Jesus diz que se eu perdoar as pessoas que pecarem contra mim, serei também perdoado pelo Pai Celeste. Mas, se eu não perdoar as pessoas que pecarem contra mim, o Pai não vai perdoar os meus pecados. Isso me parece perdão condicional”. Eis porque é condicional: Ele ensinou que, quando passamos da morte para a vida, a nossa dívida, que era enorme, foi perdoada. Nessa ocasião, recebemos instrução clara de que deveríamos perdoar assim como fomos perdoados. Recebemos perdão incondicional; temos que perdoar incondicionalmente.
A pessoa que perdoa incondicionalmente não tem qualquer problema em orar: “Senhor, perdoa-me assim como eu perdôo”. Seu perdão é incondicional. O crente que faz o que lhe manda o Senhor não encontra contradições. Só haverá contradições quando o perdão oferecido não for o mesmo perdão recebido. Este foi o problema do servo incompassivo. Ele recebeu o perdão. Mas, logo em seguida, não quis perdoar como foi perdoado.
Eis uma frase poderosa: “Eis como o meu pai Celeste irá tratá-los, a menos que vocês perdoem do íntimo o seu irmão, assim como do meu íntimo eu os perdoei”. A certeza da salvação não pode existir onde há falta de perdão.
“Se teu irmão pecar contra ti, vai arguí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, n%o te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.”
Esta passagem, que precede a parábola que examinamos, também se refere a essa questão de perdão de coração. Se o seu irmão pecar contra você, vá até ele e mostre a ele o pecado que cometeu. Só entre vocês dois. Se ele ouvir, você terá ganho o seu irmão.
Você dirá: “E impossível que o resultado seja esse. Já tentei agir assim — a pessoa pecou contra mim e fiquei tão irado que fui a ele e mostrei-lhe o seu erro, mas ele não se dobrou”. Isso aconteceu porque você não foi a ele com o coração cheio de perdão. Esta passagem não faz sentido para várias pessoas porque elas não podem aceitar o fato de que têm que ir ao ofensor nesses termos. “Como poderei falar com alguém sobre o pecado que cometeu contra mim, esperando ganhá-lo? Ele irá assumir uma postura defensiva”. Por quê? Porque alguém está acusando-o. Mas, se você for a ele com perdão no seu coração - a conclusão final de todo este ensino — o resultado não será acusativo.
Posso garantir que a pessoa jamais será ganha se o que deseja corrigi-la for a ela com qualquer tipo de amargura, ressentimento ou espírito de acusação. Não se pode ir ao seu encontro com esse tipo de atitude. Só podemos ir se anteriormente já houver em nosso coração o perdão. Um perdão que não dependerá do arrependimento do outro. Tenho certeza de que ele não se arrependerá se não for procurado por um coração perdoador. Temos que procurá-lo em amor e perdão. Se nos der ouvidos, teremos ganho o nosso irmão.
Se ele não nos der ouvidos, apesar de o termos procurado da maneira certa, devemos chamar um ou dois irmãos para irem conosco a ele — irmãos com perdão nos seus corações também.
Não é assim que, em geral, acontecem as coisas. O que geralmente ocorre é que a pessoa vai falar com a outra num espírito de acusação. A outra passa a defender-se. E assim, duas outras pessoas, que conhecem só um dos lados da história, são chamadas para fortalecer a posição de que está “corrigindo”. O resultado é: fracasso.
É preciso que todos tenham o coração cheio de perdão de modo que, se o ofensor recusar-se se arrepender, ficará evidente a falha dele.
Se ele recusar-se a ouvir, deve-se comunicá-lo à igreja. E claro que é preciso que a igreja também esteja transbordante de perdão. Há igrejas que pensam que exercem uma disciplina santa. Mas isso não é verdade, pois lhes falta essa atitude. Procuram o ofensor, despejam “tudo” sobre ele, e ele assume uma postura embrutecida. Chamam uns dois ou três outros, que agem da mesma forma, e o resultado é o mesmo. A igreja chuta o indivíduo sem qualquer postura íntima de perdão. Todavia, um dos objetivos da disciplina é restaurar o ofensor!
Se recusar-se a dar ouvidos à igreja, deverá ser tratado como um gentio ou cobrador de impostos. Não creio que o Senhor Jesus quis dizer que deverá ser tratado como eram tratados, então, os gentios e os cobradores de impostos. Creio que Ele tivesse em mente o tratamento que essas pessoas devem receber. Em Mateus 5, Jesus nos diz para tratarmos os justos e os injustos da mesma forma. Ele nos manda amar os nossos inimigos. Assim, ainda quando os tratamos como gentios e cobradores de impostos, isso deve ser em amor. O sentido aqui é que eles devem ser considerados pessoas estranhas à comunhão, mas que devem receber amor e perdão desde o nosso íntimo. Eles é que se recusam receber o perdão que o povo de Deus lhes estendeu desde o seu íntimo. É por causa deste ensino que Pedro fez a pergunta que originou a parábola — “Quantas vezes perdoar o meu irmão?”.
“O amor... não se ressente do mal” (I Coríntios 13.4,5).
O amor não faz uma listinha de erros dos outros. Talvez alguns de vocês já ouviram o seguinte, no contexto do casamento — o marido, ou a esposa, diz: “Você sempre fez isso; e você nunca fez aquilo”, O que está implícito nesse comentário? Que alguém está contabilizando. A Bíblia manda que jamais façamos isso. Fazemos listas de erros quando ficamos armazenando ofensas. O perdão não age assim.
O que Jesus quis dizer ao afirmar que “o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus”? Ele Se referiu à igreja cheia de perdão, agindo em Seu nome — agindo como Ele ordenou que agisse. Dessa forma, ao tomar uma decisão baseada na Sua Palavra, Ele honrará essa decisão.
Ele não honra a aplicação mecânica de alguma fórmula. Mas, se a igreja agir no caráter e amor do Senhor Jesus Cristo e o Corpo de crentes tomar uma decisão, no espírito de perdão, de disciplinar uma pessoa que não quer arrepender-se, Deus honrará essa decisão nos céus.
Muitos crentes usam aquele versículo sobre dois ou três concordarem a respeito de alguma coisa fora do seu contexto. Esse texto refere-se à disciplina na igreja e à questão do perdão para com um irmão. Aparece exatamente entre o ensino a respeito de como tratar o irmão culpado e a pergunta de Pedro sobre quantas vezes se deve perdoar um irmão. Assim, quando dois ou três se reúnem em Seu nome, o Senhor Jesus Cristo está com eles. Isto tem a ver com decisões de perdoar pessoas que tenham pecado contra nós.
E fácil perceber a relação entre isto e a amargura. A amargura é, na verdade, falta de perdão. É assumir a postura de que alguém fez algo contra mim, e eu não irei perdoá-lo. Mas é claro que a amargura não se vê a si mesma como pecado — ela só quer ver o pecado do ofensor.
Portanto, num sentido, o perdão é unilateral. Num’ certo sentido, o Senhor Jesus nos perdoou a nós todos antes que nos arrependêssemos. Esse perdão só tornou-se ativo a partir do momento em que o recebemos. Deus não estava nos céus guardando rancor até que nos arrependêssemos. Ele não fica lá amargurado até o dia de nosso arrependimento. Ele tem o coração cheio de perdão antes que nos apropriemos desse perdão. Há perdão unilateral da parte de Deus, e Ele exige perdão unilateral da nossa parte para com quem quer que seja que peque contra nós. Ficamos pensando no que a pessoa fez contra nós, ou falou de nós, mas o problema nada tem a ver como que ela fez ou falou.
Quando um crente tem o coração cheio de perdão, ele se preocupa com a pessoa que pecou contra ele. Ele não se preocupa consigo mesmo. Mas nós somos como Pedro: “Claro, Senhor, eu vou perdoá-lo sete vezes! Mas, se ele pecar pela oitava vez, em ‘viro a mesa”!
O verdadeiro perdão não faz listas. Se você tem uma tendência para agir assim dentro ou fora da sua família, é bem provável que você não esteja perdoando. E Jesus ensinou que o Seu Pai Celestial irá tratar-nos com falta de perdão, a não ser que perdoemos de coração. Perdoe de coração.
“Mas eu não consigo perdoar de coração”. Então, quem é que precisa, de perdão? Você.
A pessoa que precisa de perdão é a mesma que sente essa falta de amor esse ódio, essa atitude má, esse rancor, ou seja, lá o que for. Não é possível uma atitude duplica: não se pode guardar mágoa e regozijar-se no Senhor ao mesmo tempo.
É possível, sim, guardar mágoa no coração e freqüentar a igreja e cantar. Mas isso tudo é uma farsa! O louvor é falso. Você pode forçar as pessoas a cantarem, mas, quando os seus corações estão limpos, não é preciso forçá-las — elas irão cantar de coração, espontaneamente. Por quê? Porque os seus corações estão limpos!
Há uma grande diferença entre cantar porque a pessoa está regozijando-se no Senhor, e cantar para ficar alegre. Alguns crentes vão à igreja todos os domingos e cantam para ficarem alegres. Mas a alegria acaba quando eles param de cantar porque há sujeira em seus corações.
Seria bom se todos nós fôssemos infalíveis e só os outros fossem os pecadores. Mas não é assim. É melhor assumir o fato de que sou eu quem tem o problema: falta-me perdoar.
Se um crente tem o coração cheio de perdão, terá alegria. Não importa o tamanho do erro do outro, ou o quanto a outra pessoa o ofendeu.
 
Texto de: Pr. Marcos Machado - Igreja Batista Jardim Novo Mundo – Goiânia (GO)

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